Recorrente

Falha de drenagem pode ser razão de deslizamentos no Contorno

Especialistas avaliam que o problema, aliado a erro estrutural, pode ter motivado os dois desmoronamentos em três meses

Jô Folha -

Entregue em 8 de abril deste ano com cerimônia que contou com a presença de diversas autoridades, incluindo os chefes do Executivo municipal, estadual e federal, o Contorno de Pelotas, trecho duplicado da BR-116, já apresentou dois deslizamentos. Em ambos os casos, o estrago se deu em dias de chuvas intensas e no mesmo ponto: a encosta próxima ao viaduto do Salso, no quilômetro 524 da rodovia. Situação que chamou a atenção para a qualidade da obra ou, pelo menos, dos taludes. O Diário Popular conversou com três especialistas ligados às universidades federais da região para tentar entender possíveis motivos para as quedas de barreira que, além gerar custo de reparo, pode representar riscos a quem transita pela rodovia.

Professores do Centro de Engenharias (Ceng) da UFPel, Klaus Theisen e Ingrid Belchior ressaltam que apenas uma inspeção técnica pode dar resposta definitiva do que causou ambos os casos. No entanto, ambos apontam hipóteses que condizem com análise feita pelo professor de Geotecnia da Furg, Diego Fagundes, que esteve no ponto dos deslizamentos avaliando o local. Para os três, a falta de uma armadura no concreto ou outra medida que concedesse função estrutural à parede, somada à falta de drenagem apropriada, explicaria os dois eventos atípicos.

Estrutura de proteção
A proteção de concreto colocada no talude (a "parede" natural inclinada da encosta da pista) serve para evitar justamente o desmoronamento de terra, com a intenção de evitar eventos que atrapalhem o trânsito, entre outros problemas. Portanto, há função de proteção, e não estrutural. Ao pé, há uma pequena canaleta, com a finalidade de escoar a água, evitando o alagamento da via. Para evitar o entupimento com terra, essa canaleta costuma ser construída ao pé de uma estrutura concretada.

O que dizem os especialistas
Apesar da dificuldade de analisar o projeto por não conhecê-lo a fundo e os materiais compostos, os três técnicos apontaram as mesmas possibilidades. Portanto, os erros podem ter ocorrido tanto pelo projeto quanto pela execução. Mas um ponto comum citado é a falta da armadura junto ao concreto, o que daria mais "fôlego" de deformação, evitando o rompimento. "Geralmente se faz uma malha de aço, e aí não se vê. A gente não pode afirmar com certeza [que é erro de projeto], pois podem ter falhas de construção", diz Ingrid.

"Dá para ver nitidamente que faltou a armadura", reforça Theisen. Fagundes, por sua vez, explica que dessa maneira, a água absorvida pelo solo gera uma pressão na estrutura e, sem ter como flexibilizar, ela acaba cedendo. Outra possível falha apontada é a falta de uma canaleta ou barbacãs (tubulações que saem do maciço) para a drenagem da água.

Com as chuvas, a falta de escoamento e de uma estrutura de reforço no concreto, o deslizamento foi o resultado. "Em uma cidade com inverno tão chuvoso quanto Pelotas, essas estruturas de drenagem têm que ser muito fortes", completa Ingrid. O professor Theisen aponta que as obras costumam ser projetadas considerando o tempo de retorno da maior chuva registrada em um período que pode ser de 20 anos ou mais. Ou seja, esperando o pior cenário possível.

"Se a água tiver um caminho, ela vai sair mais fácil", pontua Fagundes. Verificando o local, ele diz perceber manchas de umidade no concreto, um sinal de que a água não está sendo escoada de maneira correta. "Está nítido que é drenagem [o problema]", afirma.

As constantes interrupções durante a execução das obras, iniciadas em 2012, também podem ter causado problemas estruturais. Mas, segundo Theisen, esse tipo de situação costuma ser prevista em aditivos contratuais, feitos justamente para manter a obra tecnicamente correta. Na retomada costuma haver uma análise, verificando o que mudou no período ocioso.

O que diz o Dnit
Em nota à reportagem, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) informou ter feito vistoria técnica no local, constatando justamente a necessidade de melhorias no sistema de drenagem. Nos dias seguintes ao segundo deslizamento, o órgão afirmou que a empresa responsável pela obra atuava no local para fazer os ajustes necessários na drenagem e a recomposição do talude."O serviço realizado pela empresa está coberto pela garantia contratual e o prazo para execução depende das condições climáticas, com expectativa de que o serviço seja finalizado em 60 dias", diz o texto.

 

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